terça-feira, 2 de abril de 2013

Sem pintura...

Senti!
Era forte a dor!
Uma mágoa em mim que vinha do outro lado da tenda...
Atravessei-a num só salto...
Encontrei um homem de olhar perdido, sentado na beira de um charco...
Os seus olhos choravam apesar de nenhuma lágrima escorrer deles.
Os seus olhos, variavam, entre o vazio e uma fotografia caída nos dedos...
Grunhi um som quente, acolhedor, abracei-lhe a dor, distribuía pelos dois. Atenuei-a...
Abracei-o com o som, com os braços, com o todo que sou...
Quando finalmente se deixou encostar no meu peito, gritou sem som! Senti o mundo tremer, há muito que carregava aquela dor, também o mundo aguardava a sua partilha...
E a dor que senti, atenuou novamente...
Chorou finalmente, em arco, como só ele sabe fazer, chorou até a libertação...
Alguém o chamou...
Calçou os longos sapatos, vermelho-purpura, adicionou um nariz ao seu, retocou o sorriso junto aos olhos, e entrou!
As crianças gargalharam de imediato...

Bicho

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