sexta-feira, 15 de março de 2013

Não o sei dizer em palavras!


Atirou com o papel entre a raiva e o desespero, saiu vociferando meias palavras...
Devia ser, para aí, a quinta vez que o fazia...
Passado uns minutos, voltava a entrar, fixava os olhos no mar, e ali se demorava...
Sentava-se novamente rabiscava qualquer coisa mas... Mal começava a escrever, emitia gritos iniciados em  surdina que se iam libertando em paralelismo com os bruscos movimentos, transpunha a raiva no papel e rasgava e amarfanhava e atirava-os sem cuidado.
Saía novamente entre palavras meias ditas, num acelerado passo, como quem pontapeia o ar...

Num desses momentos, enquanto o retorno não acontecia, não resisti, pequei num dos papeis do Ibrahim...

"Não possuo o dom!
Se eu conseguisse, transporia em palavras o sentimento, este que todos os poetas definem como indefinível, o tal que arde sem se ver, aquele cujo apenas o peito da amada acalma, aquele cuja a mera passagem cria poesia sem palavra...
Como gostaria de ter o dom, de transformar o abstracto em concreto,  definir o indefinível...
De numa orgia de palavras o alcançar,  conjugar as palavras e permitir-lhes apenas o sentimento mais belo, e ainda assim... Tão longe!
Como definir a razão da existência no sentimento que possuo!
Como criar com as palavras tal aglutinação de existência...
Sem medo...
Sem dom...
Sem palavra...
Porque existes!
Porque amo!
Sou!"

Também o sou...
Não o sei dizer em palavras!

Bicho

1 comentário:

  1. ...e jamais existirão palavras para definir sentimentos e emoções. As sílabas não passam de sons roucos ensurdecendo o silêncio,na linguagem do sublime mistério destes Eu´s que se degladiam na conquista da sublimação um, na conquista do complemento o outro. Rodopia-se neste foguetão que é a nossa "cápsula", neste corpo que acaba por nos ser estranho. E espera-se amarar, para não explodir na areia das palavras.
    Belo, Ibrahim!
    Beijinho

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