sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Até já...

Acredito que seja desconfortável para vocês, não para todos, pois que me cruzo com alguns humanos na praia nos dias de chuva!
Num desses meus passeios, cruzei-me com um rapaz, com uma tatuagem no pé! Até já... dizia a tatuagem.
Olhava para o mar e sorria, apesar dos seus olhos tristes...
Sentei-me a seu lado, fez umas festas no meu pelo, como se faz aos cães... Eu gosto! Alguns humanos reagem como se eu fosse apenas um animal, outros apenas pelo meu lado racional. Gosto especialmente quando compreendem que apesar da minha capacidade intelectual gosto igualmente de brincar e de receber festas! Foi o caso!
Enquanto acariciava o meu dorso, perguntou: Então Bicho! Como estás?
Grunhi um bem, facilmente percepcionado pelo rapaz. Apontei-lhe para a tatuagem e vocalizei uma interrogação em grunhido...
- Sentiste-o! Não foi Bicho! Tenho um Bicho como tu por grande amigo...
Bem que me parecia que o já conhecia, já vivi partilhas com ele!
Quis reviver a historia do até já...
Estiquei-me na areia molhada, fiz um monte para elevar a cabeça, fiquei pronto para a ouvir!

- Tenho um irmão... Já não vejo a algum tempo... Por imensas vezes me disse até já!
Para ele, esta era a forma correcta de entre os homens se despedirem ou se afastarem, independentemente do tempo que intervalaria a sua ausência.
Não gostava do determinismo do Adeus, nem da casualidade do Até qualquer dia, afastava-se com a vontade do Até já...
Sempre achei aquilo curioso, via uma certa beleza naquele acto mesmo sem o compreender...
Até o dia em que a sua ausência foi certa...
Nesse dia, mesmo antes da sua ultima presença, sussurrei-lhe ao ouvido um Até já...
Aquele Até já, ficou também em mim... como se me dissesse até já a mim...
Compreendi quem sou, quem somos...
Pois que o meu irmão não estava mais ausente de mim...
Marquei o em mim, por forma a nunca esquecer, o valor do Até já...
Como símbolo da sua presença em mim.
O tempo que nos intervala a ausência é apenas um instante...
Por isso, Bicho, desde esse dia, vivo esse instante, esse renovar de Até já, até a concretização do Até já seguinte...
Levantei-me e escrevi na areia!
Acenei sorridente e continuei o meu passeio...
Gritou-me Até já para ti tb Bicho!

Bicho


2 comentários:

  1. E com um Até já, aplaudo este delicioso e original texto.
    Saudações poéticas.

    ResponderEliminar
  2. Bicho entras no nosso coração, entranhas na nossa alma e desenhas os nossos sentimentos. Até já

    ResponderEliminar