sábado, 2 de fevereiro de 2013

O destino da escolha



Acordei com uma voz...
Inconstante e indecifrável! O Ibrahim  fala no sono..
Fá-lo como quem reza! A sequência de palavras é constante, mas apenas perceptíveis aquelas que coincidem com a expiração...
Sou um Bicho curioso... Mantive-me em bola mas apenas alguns minutos! Não resisti, esgueirei me ate ao seu quarto...
Confirmei, dormia!

Senti uma enorme vontade de me enrolar ao seu lado, sabe tão bem ser pequenino de novo...
Assim senti, assim o fiz... Enrolei-me à escuta!

As palavras vinham e iam em impulsos... Poucas faziam sentido,  as que faziam, encontravam-se perdidas no intervalo do silencio...
Mesmo assim houve frases que retive:
"... em ti reconheço a minha alma..." "... todas as mentiras do passado, são dignas de perdão, se viveres a verdade do presente..." "...se não formos nesta vida determinados, somo-lo ainda assim na eternidade...".

Ouvi aqueles murmúrios... na verdade algumas das palavras que transcrevi, não posso com total certeza dizer que as ouvi, mas assim as percepcionei...  Aquelas palavras ecoaram em mim, como se fossem motes de construção de vivências e existências, a partir delas comecei a criar mundos e realidades...
Senti vontades...
Ocupei os silêncios...
Vivi histórias...

E delas, das palavras, surgiu-me um sonho, como se o fado da escolha que conduzisse a vida, não fosse mais que um traço definido. No qual o caminho percorrido, servisse apenas para compreender que o determinismo da escolha de ontem fosse a certeza da  realização do hoje...

Esse trajecto que chamamos vida, esse conjunto de experiências acumuladas,  de vivências, produz o caminho!
O caminho é algo pessoal, é uno, irrepetível, intransmissível... Único no mundo!
Dessa percepção do mundo,  na qual é tomada a decisão da escolha, através desse acumular de vida,  dessa opção que define e cria o caminho,  reflectimos na escolha de hoje o passado das escolha realizadas...
Limita por outro lado, a compreensão total do outro, pois para cada um existe apenas um só caminho...
O meu juízo, a minha escolha, é feito pela minha condição, pelo meu caminho, não pelo do outro...

Mas aquelas palavras, ajudaram me a compreender como podem então caminhos e escolhas convergir...
Todos os caminhos tem processos de convergência,  através do perdão, da compreensão, da tolerância, da paz, do amor ...
A fusão dos caminhos é possível... Cada um no seu, é certo, mas lado a lado, juntos! Se for esse o seu destino. A sua escolha!


"Conheci-a quase sem querer...
Já a tinha visto, passava livremente por mim...
Não que me fosse completamente indiferente, a sua beleza era notória, mas distante da que encontrei quando os os seus olhos se entrelaçaram nos meus...
Nesse dia! Tudo mudou. Fugiu o vazio que me preenchia e nada mais cabia que a sua existência em mim.
O seu sorriso acelerou o tempo, e este, perdeu o tic tac que o intervala, transformando-se num continuo onde o próprio tempo se anula.
Não foi apenas o tempo, o espaço... O chão fugiu e o céu perdeu o seu limite.
A existência transformou-se numa corrente perpetua para onde flui toda a vida. 
O momento valia a eternidade e os seus olhos todo o espaço existente...

Estranho...  A sua beleza perdeu o valor externo que transportava! Se me pedissem para a descrever, não o conseguiria fazer! Como é possível descrever o Universo e todas as coisas existentes... Se o tivesse que fazer , diria apenas que é tudo de belo que sinto em mim...

As palavras não saíram, mas o silencio não se impôs, pelo contrario, trocamos imagens, seleccionamos escolhas futuras, há muito decididas no passado...

Um sorriso partilhado renasceu naquele momento. Um tic esperou silenciosamente pelo seguinte tac, e o universo engrenou novamente no seu movimento...
Saiu um passo que encontrou o chão...
Fugiu-nos simultaneamente dos lábios um olá..."

-Bom dia, filho!
 Fui subitamente interrompido!Beijou-me o Ibrahim que com voz sorridente acrescentou:
- Por andavam os teus sonhos? Ah Ah... Grunhias sons de amor...

Bicho

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