segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A varanda tem flores.

Gosto de andar descontraidamente pela cidade, braços soltos, posição erecta, distraidamente a olhar quem passa...  A ver os quadros que os humanos criam, os seres inanimados, ou movidos por uma qualquer maquina, com brilhos e veludos, tons dominantes, arco-íris ofuscantes, montes e praias transportados, sol e chuva, sorrisos e dores... Tudo inserido num pequeno cenário transparente...
Por vezes, na sua frente, absorvo aquela experiência, e apanho boleia de uma onda, ou imagino-me a colocar  os óculos e capacete, continuo os meus movimentos no triplano de um qualquer Barão Vermelho...

Num desses meus voos, esqueci-me da minha altura, de como os edifícios são projectados...
Não à minha medida...
Num rodopio, picado, com inversão a terminar num looping em parafuso, a desafiar todas as regras da aviação e da física, a provar que é a destreza do aviador e não da maquina que define a sua competência...
Esbarrei-me contra uma varanda! A uma altura incerta...
Cai redondo com as costas no chão...
Abri os olhos, confirmaram o que o tacto já tinha provado, lá se encontrava a varanda...
E continuei a voar...

"Se eu fosse uma varanda, de altura incerta, suspensa e só...
Teria medo do chão, dessa certeza que limita o horizonte.
Preferiria olhar o céu, as estrelas, e ver o tudo que somos nas pequeninas estrelas que nos desenham...
Viveria como quem caminha no solido chão, mas a cada passo, juntaria a duvida da sua presença....
Não pela queda abismal. Pelo infinito voo em que partiria!
Sentiria o vento que assobia, a chuva que molha, o sol que aquece...
Viveria as estações e a idade que trago.
As flores que transporto, os seres que carrego...
Se eu fosse uma varanda, de altura incerta, suspensa e só...
Sentiria a parede que me acode, que sustêm e ampara, quando do chão se sente o aroma, quando na duvida se sente a queda...
E após esses momentos, verificaria os ferros, as juntas, anilhas.... E apertava com muita força...
Para que a parede, também pudesse voar ..."

Levantei-me, chamou-me atenção a montra em frente...
A varanda!
Tem flores lindas...

Bicho

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