segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Bicho Urso

Ontem estive com o Ibrahim, fui visitá-lo...
Dormi lá!

 Desde Bolinha que adoro ouvir as historias contadas pelo Ibrahim!
Pedi-lhe que me contasse uma!
  Mesmo depois de ter apreendido a ler!
Também tento! Em simultâneo com a leitura dar forma as personagens... Consigo sentir que estas têm vida em mim! Sinto-lhes a voz!  É excitante!
Mas tal exercício não compete com representação do Ibrahim!
A sua Representação deixa-nos presos, vivemos com ele... é maravilhoso!
Apesar de não começar com o, era uma vez, sinto ainda assim mesma magia ...

"Um Homem vivia numa caverna juntamente com um urso. O urso era enorme! Entre os ursos chamavam-lhe O Gigante!
Com frequência, o Urso apanhava o peixe mais suculento, o mel mais doce, e por vezes, o coelho mais rápido, que apesar dos seus rápidos saltos, estes, eram pequenos de mais para a lenta corrida do Gigante.

Voltava sempre com olhos brilhantes e orgulhos, e como se de uma oferenda se tratasse, entregava-os ao Homem!

Os outros ursos achavam aquilo muito estranho! O Gigante é um parvo! Não basta pescar e caçar para ele, ainda o faz para um ser Humano...

Um outro Urso, curiosamente com dimensões bem diferentes do Gigante, andava com azar na caça e na pesca. Era até pequeno de mais para lutar com um enxame em fúria! Para além disso, a sua pequena dimensão, não lhe permitia ter força suficiente para rasgar as árvores, onde estavam as colmeias mais produtivas...
Nunca lhe chamaram Anão!
Não tinha a mesma origem do Gigante, onde a distinção entre os ursos era feita pela sua dimensão.
De onde o Manchas era oriundo, não era pequeno! Apresentava um tamanho normal dentro da sua espécie. Porém, o caminho e a aventura trouxeram no até aqui, ao Vale dos Ursos Grandes!
Chamaram-lhe Manchas. Pois, para além da normal cor dourada no dorso, tinha umas pequenas manchas mais claras que o distinguia dos de mais. Quem o visse! Facilmente compreendia a razão do seu nome!

A fome tinha enfraquecido o Manchas, a sua debilidade física já tinha alterado as atitudes e pensamentos  que o trouxeram até ao vale.
Se a beleza e frescura do vale o tinham prendido em tempos... Tudo agora era um mero exercício de sobrevivência! Não tinha tempo nem disponibilidade para se preocupar com a beleza... Com as borboletas que costuma observar nas azuis violetas... No pequeno colibri que se alimentava nas campainhas, junto à sua toca... No bailado dos troncos que quando acariciados pelas brisas mais fortes, faziam estranhas, mas belas canções, acompanhadas pela chuva dourada das folhas de Outono..."

 - Precisavam de ver a forma como o Ibrahim "dançava", como se o vento o forçasse ao desequilíbrio, enquanto suaves movimentos dos dedos imitavam na perfeição o bailado das cadentes folhas..
Fenomenal!

"O Manchas tinha fome! Desespero de fome! Os pequenos insectos e a fruta dos ramos mais baixos apenas lhe garantiam uma barriga a roncar e mais um dia de desespero...

Um dia...
Ao observar o Gigante a entregar um delicioso Salmão ao homem...
Pois era o tempo deles! Grandes! Fortes! Gordos! Rápidos! Fugidios! Astutos de mais para o pequeno e fraco Manchas.

Começou, então, a ter maus pensamentos em relação ao Homem...

Este Gigante... a alimentar um Homem... poderia ajudar seres como eu... da mesma espécie... ainda que diferente sou dos dele... com a sua dimensão tem responsabilidades para connosco... não com qualquer outra espécie...  o Homem tem que desaparecer... Não sou maior que ele, mas... As minhas garras são  afiadas...  De todos os seres do vale é o mais fraco!  Mais lento que os coelhos! Menos fugidio que um salmão! As minhas presas serão facas na sua carne!

Começou então a rondar a gruta do Gigante, não poderia arriscar o confronto com este, seria a sua morte, apesar do desespero não era estúpido!
 Matar o Homem tinha que ser uma questão de sobrevivência não o contrario!
Mas o Homem nunca ficava tempo suficiente sozinho. Não se afastava o suficiente a permitir o seu ataque. O Gigante sempre  perto.
Cada vez com mais fome! Na vontade de matar o homem, esquecia-se dos pequenos insectos e da parca fruta ...
Um dia, de tão fraco! Desmaiou!

Quando acordou, sentiu junto ao seu focinho um grande coelho, já morto e com a pele arrancada! Pronto a ser comido.
Sentiu água fresca, entornada na sua boca...

 Debilitado e desorientado, conforme desaparecia a névoa da sua visão, viu a transformação de dois vultos. Eram o Homem e o Gigante...
O zunido silencioso transformou-se em voz...E uma voz profunda e gigante, num tom doce como o mais doce dos meles disse:
-Recordas Pai? Era bem mais pequeno quando fizeste o mesmo por mim...
Ao que uma voz serena e tranquila respondeu:
-Sim! Claro que recordo meu filho Urso! Por favor... Vai buscar mais água para este teu irmão!

O Ibrahim ficou parado a olhar para mim, piscou-me olho enquanto sorria e disse: Vai meu filho Bicho! Por favor... Vai dormir!
Adoro as suas historias!


Bicho




Sem comentários:

Enviar um comentário