segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Bicho Três

Um Homem finalmente encontrou o seu caminho...
Arrependeu-se do seu passado, visitou os locais onde antes houvera roubado e mentido para reposição das suas acções.
Entrou numa aldeia, onde tinha roubado o sino do adro.
Lá chegado, sabendo que os habitantes o desconheciam como perpetrador do acto, procurou trabalho junto dos mesmos...
Apenas uma casa, não aceitou o seu trabalho...
Ajudou nas colheitas, calcou as uvas, varreu as eiras, espalhou o milho, limpou fachadas, caiou as casas, montou os fornos, arranjou telhados... A aldeia nunca tinha estado tão bonita. Até os canteiros! Nunca estes tinham estado tão floridos...
Pediu a todos que se reunissem no adro.
Todos se reuniram, era um pedido do Homem que a todos ajudara.
Lá chegados, o homem contou a sua história. Todos se comoveram com a história do ladrão que se tinha redimido e agora ajudava o outro. Ainda mais se comoveram quando este destapou um sino igual ao que houvera roubado anos antes. Comprado com o suor da ajuda que tinha dado.
Mas logo o velho da casa que não permitiu sua ajuda, veio até o adro e disse:
"Em nada vale a tua acção! Quem entrou em vossas casas foi um Homem com vontade de trabalhar, foi Homem consumido pela sua culpa, que se forçou a redenção. Diz me Homem. Se a tua culpa te obriga a reposição porque não foste sincero connosco? Quiseste com os actos de um Homem bom, o perdão ao Homem mau!"
O Homem pegou no sino e levou-o. Os aldeões deixaram no ir...

 Passado um ano, o Homem entra na aldeia. Chega ao adro e grita:
"Eu sou o Homem que vos roubei, que vos pilhei o bronze do vosso sino, duas vezes!
 Sou hoje um homem novo e pretendo a redenção dos meus pecados...."
O velho aproximou-se e perguntou-lhe:  "Achas que consegues arranjar o meu telhado?"

Bicho

3 comentários:

  1. Bicho: os homens cometem erros, protagonizam desgraças e elevam a condição humana ao estado de êxtase. Somos assim. Fazemos tanto bem quanto provocamos o mal. São dois conceitos que ladeiam todos os Humanos, conceitos desregrados e desiguais entre cada um. Como te contaram neste episódio, há bens que não conseguem apagar mal algum, como o contrário. EU questiono-me muitas vezes afinal que são estas noções do bem, do mal, do tudo do nada. Não sei, nem nós Humanos sabemos - talvez tu possas descobrir um dia, enquanto cá estiveres - se afinal isto existe mesmo, o Bem e o Mal que fazemos a nós e a todos os outros. Sabes, tu tens sorte, Bicho, tu não pensas nisto, observas e ages e EU próprio não sei se isso é melhor ou pior. Vejo contudo que em ti, Bicho, existe uma noção do que acontece, mesmo que não julgues essa noção, que não a classifiques, nem te redimas ou reconfortes. Existem erros na tua acção, Bicho? Erros que te massacrem o que nós, EU, chamamos alma? Actos presentes que enegrecem o futuro quando este se torna presente? Consegues sentir facas no peito, na cabeça, que te toldam a visão e te doem no peito, onde está o nosso coração? Facas que não existem, que não as vês, mas que as sentes, que não te ferem de sangue, mas que não te deixam seguir em frente? É isso que nós chamamos de angústia, isso que nós chamamos de arrependimento, é isso que nós chamamos de bem e de mal. É isto que nos arrasta para o fundo da luz, que nos impede de uivar à lua e estender ao sol. Mas também é isto, Bicho, que nos faz ser o que somos, amar, sentir, sorrir, abraçar e arrepiar. É isto que nos faz viver. Quando esta sensação desaparece, chamamos a esses Humanos loucos. Desvairados. Anormais. Mas não sei, Bicho, não sei se o são. Não sei se temos mesmo de sentir e classificar o que sentimos. Não sei se temos de pensar antes de sentir de agir. Não sei o que o homem fez para roubar, nem para se tentar redimir. Mas sei de uma coisa, Bicho, há coisas do passado que sentiremos sempre no futuro e sempre que este é o presente. Nós somos assim, nós Humanos, e EU como presente do meu futuro, também sou. Tenta tu, Bicho, ver de nós, Humanos, onde encalha este desproposito de viver sem noção de saber o que faz dos outros, EU, o que faz com que nós tentemos decidir pelos outros o que é o bem ou mal.

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  2. Meu caro Eu.
    Deixe-me antes de tudo agradecer o seu precioso contributo na definição de humano, que há anos tento transmitir ao Bicho. Faço-lhe com frequência interrogações semelhantes. O Bichano é insistente! Não acredita na verdade das acções, se elas partirem da mentira, ou, se procurar com a verdade a omissão da mentira. O resultado das acções deverá, terá que ser, avaliado em conformidade com a acção na verdade. Pois de outra forma o resultado não será a verdade. Pegando na historia do homem e dos sinos. A avaliação de um homem que actua por puro altruísmo cuja acção é igual à de o homem que a pratica por um sentido de culpa das acções passadas... Será igual? nunca sei o que responder ao bicho quando ele me faz estas perguntas! Sei contudo que existe uma relação casual no seu passado que o faz ter as acções de hoje! Não deveria ser suficiente? Normalmente olha-me com os seus grandes olhos e escreve: se o for com VERDADE!

    Ibrahim

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