quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Filho Bicho

A pedido do Bicho, vou vos contar como me tornei seu pai!
Passava a noite na praia, a falar com quem já não estava...
O mar parecia-me o canal perfeito para levar e trazer as mensagens!
Tinha acabado de me atirar para trás, e ali deitado, pareceu-me ver uma estrela a aproximar...
Inicialmente pensei que fosse uma mensagem que se tinha desviado do mar...
Logo reparei que não , pois não era apenas uma, mas sim duas, três, quatro... mais de uma dúzia de estrelas em direcção ao planeta.
Uma chuva de estrelas, pensei! Adoro!
Conforme se aproximavam apercebi-me do distanciamento umas das outras...
Ei lá! Vem uma na minha direcção...
Nunca mais se desintegra...
Não é uma  habitual chuva de meteoros!
Não conseguia tirar os olhos da descendente estrela, cada vez mais próxima...
Desloquei-me uns metros que nem um caranguejo! Olhos na estrela, caminhando nos quatros membros,  levantando apenas ligeiramente o rabo, que ainda assim roçava nas pequenas dunas formadas pelos passos dos homens...
Fiquei assustadíssimo...
Não sei se poderei considerar este movimento uma fuga! Mas parece-me normal que o instinto nos faça ter movimentos incontrolados quando temos como hipótese a proximidade do fim...
Mas...
Talvez o fascínio ou a compreensão de que a distancia que alcançaria em nada alteraria o resultado do embate... Voltei a deitar-me!
Disse um adeus, a parte de mim. Enviei, via mar, uma mensagem de até já.
Esperei com paz! Seja...
Mas quando o embate parecia eminente...  A estrela desacelera, o fogo que a envolvia desaparece, em sua substituição fica uma bola acinzentada... Brilha mas sem radiar luz! Como se estivesse envolta num plasma brilhante! Quando se encontrava a cerca de vinte centímetros do chão parou! Flutuou um ou dois segundos, desapareceu o plasma e... puf! Caiu na areia!
Hesitei entre a fuga e a curiosidade.
Estranho!
Uma esfera!
Uma esfera perfeita... parece pelo!
Dei um salto para trás... Mexe! Está a mexer! O pelo saltava da esfera como se tivesse molas, a esfera começa a desfazer-se e ...O que é isto? Um cachorrinho? Um cachorrinho alienígena!
Entre o fim eminente e esta imagem, o meu coração não parava. Sentia-o palpitante! A minha nervosa respiração não acompanhava o meu batimento cardíaco.
A bola transformou-se!
Nitidamente um ser vivo!
Provei que a palma da mão é de facto um sinal universal de paz! Quando dei por mim estava com a mão direita levantada e a dizer: " Bem-vindo! ". O condicionalismo Pavloviano funciona igualmente apenas com a mera  observação cinematográfica...
O Bicho observou-me com os seus grandes olhos. Imitou os meus movimentos, sinal de inteligência! Tomou a postura bípede.   Produziu um sorriso! O seu focinho, cara, reflexo da alma, sabia lá o que lhe chamar, tinha expressão!
Caminhou no meu sentido, enquanto eu, permanecia imóvel de estarrecido que estava, subiu por mim acima, abraçou-me o pescoço com seus braços, pousou carinhosamente o focinho entre o ombro e o pescoço e grunhiu...
No seu grunhido, li a palavra pai!
O meu coração relaxou!  De amor, por aquele ser se encheu!
Desde então, o Bicho, meu filho é!



Ibrahim


http://soundcloud.com/nunos-1/filho-bicho-t1-e1

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