segunda-feira, 5 de março de 2012

Voyeurismo de Bicho

Observava, no topo de um poste de iluminação, dois namorados que se beijavam...
Enquanto caminhavam, uniam-se lateralmente, beijavam e rodopiavam, mudavam constantemente a posição em relação ao movimento, ziguezagueando pelo passeio,  o beijo era a única linha continua.
Os corpos mudavam a sua postura, a cabeça oscilava de um lado para o outro, as mãos percorriam os cabelos, as costas, dos braços às mãos e os dedos cruzavam-se. Como se procurassem ultrapassar os limites do abraço, a qualquer momento a fusão....
Voei em salto por cima deles, quase sem reparar, soltei algumas nocturnas flores que tinha apanhado, não as notaram...
Soltaram-se!
Miraram-se, olhos nos olhos, como quem observa, não a beleza do rosto mas o sentimento, o profundo intimo.
Sorriram-se.
Os olhos desceram, as mãos soltaram-se, os corpos afastaram-se, soltou-se um Adeus finalizado em silencio...
Ele, ficou imóvel, olhando as costas dela a distanciarem-se. Ela, acelerou do passo à corrida em compasso com o compulsivo choro.
Ele apanhou uma flor, olhou-me na extremidade de um outro poste e questionou-me sem esperar resposta: Porquê? Deixou escorregar a flor dos seus dedos e foi-se!
Recolhi as flores...
Este não era o seu perfume!

Bicho

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